terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Magick


Quando fiz 30 anos, ao invés de perturbar minhas amigas com conversas sobre celulite e rugas, contei a elas que estava me dedicando à magia. Magick era algo que já estava latente em minha vida há algum tempo pois o conceito sempre esteve ligado à minha carreira profissional. Como assim, jornalista? Magia é, sob muitos aspectos, uma ciência da linguagem. 

Existe muita confusão sobre o que magia realmente é. Se você pesquisar os conceitos mais antigos descobrirá que magia sempre foi conceituada literalmente como A ARTE. E essa arte, seja ela escrita, pintura, escultura ou qualquer outra forma de expressão é literalmente magia.



 Sendo assim A Arte, como a magia, é a ciência de manipular símbolos, palavras ou imagens para operar mudanças de consciência. A verdadeira linguagem da magia trata tanto da escrita como da arte e de acontecimentos sobrenaturais, talvez sobre-naturais.
       

Um grimório, por exemplo, um livro de feitiços, é um modo extravagante de falar de gramática. De conjurar um encantamento. É uma das maneiras de manipular palavras para mudar a consciência das pessoas, inclusive do próprio. O locutor imposta a voz, dicção perfeita para dar a notícia no tom correto da emissora. Um escritor ou um artista são o mais perto do que poderíamos chamar de xamãs do mundo contemporâneo. Hã? Isso mesmo, pois antigamente, toda a cultura, todo o conhecimento era de domínio dos xamãs, a transmissão dos conhecimentos era oral, em muitas culturas não havia escrita.. Acontece que hoje em dia, o poder mágico de quem detém a cultura se degenerou ao nível do entretenimento barato e da manipulação. Eu considero isso a pior tragédia de todos os tempos. Magos multimídia das palavras e das formas...


Os xamãs da modernidade transformaram-se em publicitários que utilizam seus jingles, palavras mágicas, cores, sons para tranquilizar  pessoas, estimular o consumismo e torná-las mais manipuláveis. A caixa mágica da televisão pode fazer com que milhares de pessoas no planeta pensem nas mesmas palavras e tenham os mesmos pensamentos banais no mesmo instante.


E isso tudo funciona com a mesma intensidade da maldição de um mago, por exemplo. Ou com a mesma força da sátira de um bardo. Sendo assim, é triste constatar que os escritores da atualidade, aqueles que não são verdadeiros artistas, foram levados por essa onda publicitária. Eles aceitaram a crença de que a arte e a escrita são apenas formas de entretenimento. Não vêem a escrita e a arte como forças transformadoras que podem mudar um ser humano e uma sociedade. Basta acompanhar as inúmeras traduções e modificações que a bíblia sofreu ao longo dos tempos. Eles vêem suas obras como objetos os quais pessoas comuns precisam apenas consumir por 20 ou 30 minutos... enquanto não morrem... Oferecem ao público somente o que o sistema  quer que elas consumam.


Não percebem que não é função do artista dar ao público o que o público quer. Porque se o público soubesse o que quer, ele não seria público. Seria artista. 

E a função do artista é dar o público o que ele precisa, para crescer, evoluir, exercitar sua sensibilidade.


Na minha vida, tudo se tornou mais compreensível depois que passei a entender que arte e magia (arte real)  são naturalmente intercambiáveis. E é por isso que a arte sempre foi o meio pelo qual consigo expressar minhas idéias mágicas, mudar estados de consciência e levar diferentes pessoas a diferentes lugares e diferentes níveis.


Penso que todos deveriam se aprofundar na história do pensamento mágico. E no entendimento das causas da degradação dessa corrente. Deveriam aprender mais sobre a origem da magia nas cavernas, no xamanismo, no animismo, na crença de que tudo que nos rodeia, cada árvore, cada rocha, cada animal, é habitado por algum tipo de essência, com um tipo de espírito no qual talvez possamos nos comunicar. E nos xamãs, nos visionários, que eram capazes de canalizar as idéias úteis para a sobrevivência do coletivo. Do outro lado do mundo os Taoístas faziam o mesmo ou bem parecido..


A verdadeira consciência universal é o entendimento de como a relação entre os homens e seus EUs superiores deixou de ser direta por causa do cristianismo/monoteísmo, onde a casta sacertotal movendo-se entre o adorador e o objeto de adoração virou uma espécie de gerente intermediário entre humanidade e divindade, e que cobra muito bem por seus serviços. E isso tudo fez o homem moderno mergulhar nas drogas e no alcoolismo ou em qualquer outro vício que a cultura atual nos impõe e que destrói qualquer tipo de conexão.


















FONTE: The Mindscape of Alan Moore

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