quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

E você?

Uma cena muito diferente aconteceu hoje pela manhã. Eu estava no elevador indo para o trabalho, quando um cuidador chinês de uma vizinha senhorinha, olhou pra mim e perguntou:

- Por que não tá sorrindo?

E eu cai na risada.

- Sorrir bom pra saúde, né?

E então um gesto tão simples, tão bobo, me deixou feliz. Não precisa ser rico, aristocrata ou fazer doutorado para perceber grandeza em pequenos gestos das pessoas. Não custa nada.

O chinesinho me deu esperança no ser humano.

Sim, porque, agora que estou acabando de ler 1808 e estou entendendo muito melhor o Brasil e o povo brasileiro. De um lado, estou pasma com o absurdo, o genocídio que foi a escravidão. Mesmo já sabendo, já tendo estudado na escola, é sempre chocante ler sobre a escravidão no Brasil. Foram 10 milhões de escravos arrancados da África para as Américas e tanto que morreu no caminho. Falamos de 20 milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças, tratados e vendidos como gado. Ou pior.
De outro lado, o livro mostra bem a origem da corrupção no Brasil, da preguiça da corte que se espalhou por seus assessores e, consequentemente, para o povo, de muitos que exploravam o trabalho escravo, da caixinha para os serviços públicos, dos novos ricos que pagavam para ter títulos de nobreza e ostentar posições na sociedade, da falta de educação da população que jogava lixo pelas janelas (e hoje joga pela janela do carro).

Enfim, esta foi apenas uma pequena abordagem para nos fazer pensar nesse tema, a forma com que tratamos uns aos outros.

Mas, ok, temos assuntos mais urgentes no mundo do que esse. Eu, por exemplo, terei um dia (in)tenso, cheio de altos e baixos, coisas boas e ruins, agradáveis e desagradáveis. A vida é assim, mas torna-se bem diferente quando estamos rodeados por pessoas educadas e gentis.

Bom dia!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

De que lado estamos?


Quando eu tinha 16 anos ainda morava no grajaú. Meu pai faleceu e eu comecei a trabalhar. Eu acordava às 5 da manhã, pegava uma carona com minha vizinha até a tijuca para depois sair correndo atrás de um ônibus que dava a volta ao mundo até chegar no shopping Rio-Sul. A viagem era longa e o ônibus era lotado. Na volta, eu tinha que pegar uma carona na saída do shopping (outros tempos, não era tão inseguro como é hoje) para ir até o aterro do flamengo, de lá, pegar um ônibus para o centro da cidade onde eu descia e caminhava até o curso de inglês onde eu dava aula pra que a grana desse para sustentar minha mãe, minha irmã e minha avó. Lá pelas 11 e tanto da noite eu pegava mais um ônibus e voltava pra casa para, finalmente, jantar, tomar banho, estudar e dormir.

Tudo isso para dizer que a carona que eu pegava até o aterro do flamengo ou até qualquer lugar mais próximo era essencial pra mim. Eu realmente precisava daquelas caronas de desconhecidos. A saída do shopping ficava lotada de trabalhadores locais e era uma disputa acirrada quando um carro parava. Dúzias de caras entravam pela janela do passageiro pra saber onde o motorista estava indo.

E foi assim, de forma Darwiniana, que desenvolvi uma técnica de sobrevivência para pegar carona. Quando não tinha mais lugar e eu estava ao lado de uma pessoa em dúvida pra pegar ou não o carro, eu falava de forma bem apressada e intensa:

- E aí? Eu vou ou você fica?

Confusa, a pessoa dizia qualquer alternativa como ‘eu fico’ ou ‘você vai’, sem se dar conta que as duas possibilidades desaguavam no mesmo oceano: eu ia e o outro ficava.

Lembrei disso ao ler um artigo sobre o "Livro Negro da Psicanálise”. O artigo dizia que Freud é uma fraude e que ele roubava nos resultados científicos para fazer com que suas hipóteses sobrevivessem. Se ele foi um gênio, deve ter sido um gênio de marketing pessoal. A autora, Catherine Meyer formula a explicação com a mesma lógica intencional que eu usava quando disputava carona. Ou seja, como coloca a autora, Freud disputava uma moeda assim: "cara, eu ganho; coroa, você perde". E fiquei muito feliz ao descobrir que nossas atitudes nunca serão únicas. De uma forma ou de outra existe alguém que compartilha seu modo de agir ou de pensar.

Eu sou assim. Tenho meu jeito de ser, de pensar. E me sinto feliz e apoiada quando encontro eco nos outros. Ou os outros em mim. E, sim, eu sei que minhas alternativas iguais não eram exatamente um exemplo de ética, mas era a forma de sobrevivência que eu encontrava naquele momento. Não me orgulho disso, mas também não escondo para parecer perfeita.

A idade traz rugas e certezas. E ainda assim eu sou como eu sou. E já não tenho mais vergonha disso, nem me sinto obrigada a pedir desculpas.

Mas é aí que devemos refletir sobre você, eu, sobre todos nós, especialmente nessa onde de redes sociais onde nosso pensamento coletivo e o comportamento social delata o estado de alma em que estamos. Se um dia tivemos valores herdados pelos nossos avós, num mundo mais calmo que o atual, perdemos a maior parte deles. O respeito pelos mais velhos, dar lugar para mulheres grávidas no metrô, não trapacear, não falar mal dos colegas de trabalho, são apenas os exemplos mais corriqueiros de ensinamentos que se perderam nas confusas estruturas sociais e tornaram-se coisa de gente idiota...

Sendo assim, está na hora de parar e decidir o que realmente somos. Se pagamos o guarda na hora da blitz, se alteramos o imposto de renda, se não declaramos os bens que temos, se compramos drogas do traficante, se baixamos torrentz sem pagar, se frequentamos boites, shoppings e cinemas com instalações visivelmente irregulares (muitas vezes porque a lei é mesmo burra e o mercado injusto) sem LUTARMOS para que as coisas sejam certas. Caso contrário, temos que ter a decência de, pelo menos não apontar culpados que não são melhores nem piores do que nós.

Diante disso, você sempre tem que escolher o lado em que vai ficar. Mesmo que você mude lado ao longo da vida. Mesmo que você precise de ajuda para decidir o seu lado.

Só não dá é pra ficar do lado onde tantos tentam ficar, do lado de fora.




sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Magick



Quando fiz 30 anos, ao invés de perturbar minhas amigas com conversas sobre celulite e rugas, contei a elas que estava me dedicando à magia. Agora, quase aos 40, acredito que já possa começar a escrever algo à respeito. Magick era algo que já estava latente em minha vida há algum tempo pois o conceito sempre esteve ligado à minha carreira profissional. Como assim, jornalista? Como assim, artista? Magia é, sob muitos aspectos, uma ciência da linguagem. 

Existe muita confusão sobre o que magia realmente é. Se você pesquisar os conceitos mais antigos descobrirá que magia sempre foi conceituada literalmente como A ARTE. E essa arte, seja ela escrita, pintura, escultura ou qualquer outra forma de expressão é literalmente magia.



 Sendo assim A Arte, como a magia, é a ciência de manipular símbolos, palavras ou imagens para operar mudanças de consciência. A verdadeira linguagem da magia trata tanto da escrita como da arte e de acontecimentos sobrenaturais, talvez sobre-naturais.
       

Um grimório, por exemplo, um livro de feitiços, é um modo extravagante de falar de gramática. De conjurar um encantamento. É uma das maneiras de manipular palavras para mudar a consciência das pessoas, inclusive do próprio. O locutor imposta a voz, dicção perfeita para dar a notícia no tom correto da emissora. Um escritor ou um artista são o mais perto do que poderíamos chamar de xamãs do mundo contemporâneo. Hã? Isso mesmo, pois antigamente, toda a cultura, todo o conhecimento era de domínio dos xamãs, a transmissão dos conhecimentos era oral, em muitas culturas não havia escrita.. Acontece que hoje em dia, o poder mágico de quem detém a cultura se degenerou ao nível do entretenimento barato e da manipulação. Eu considero isso a pior tragédia de todos os tempos. Magos multimídia das palavras e das formas...

Os xamãs da modernidade transformaram-se em publicitários que utilizam seus jingles, palavras mágicas, cores, sons para tranquilizar  pessoas, estimular o consumismo e torná-las mais manipuláveis. A caixa mágica da televisão pode fazer com que milhares de pessoas no planeta pensem nas mesmas palavras e tenham os mesmos pensamentos banais no mesmo instante.

E isso tudo funciona com a mesma intensidade da maldição de um mago, por exemplo. Ou com a mesma força da sátira de um bardo. Sendo assim, é triste constatar que os escritores da atualidade, aqueles que não são verdadeiros artistas, foram levados por essa onda publicitária. Eles aceitaram a crença de que a arte e a escrita são apenas formas de entretenimento. Não vêem a escrita e a arte como forças transformadoras que podem mudar um ser humano e uma sociedade. Basta acompanhar as inúmeras traduções e modificações que a bíblia sofreu ao longo dos tempos. Eles vêem suas obras como objetos os quais pessoas comuns precisam apenas consumir por 20 ou 30 minutos... enquanto não morrem... Oferecem ao público somente o que o sistema  quer que elas consumam.

Não percebem que não é função do artista dar ao público o que o público quer. Porque se o público soubesse o que quer, ele não seria público. Seria artista. 

E a função do artista é dar o público o que ele precisa, para crescer, evoluir, exercitar sua sensibilidade.

Na minha vida, tudo se tornou mais compreensível depois que passei a entender que arte e magia (arte real)  são naturalmente intercambiáveis. E é por isso que a arte sempre foi o meio pelo qual consigo expressar minhas idéias mágicas, mudar estados de consciência e levar diferentes pessoas a diferentes lugares e diferentes níveis.

Penso que todos deveriam se aprofundar na história do pensamento mágico. E no entendimento das causas da degradação dessa corrente. Deveriam aprender mais sobre a origem da magia nas cavernas, no xamanismo, no animismo, na crença de que tudo que nos rodeia, cada árvore, cada rocha, cada animal, é habitado por algum tipo de essência, com um tipo de espírito no qual talvez possamos nos comunicar. E nos xamãs, nos visionários, que eram capazes de canalizar as idéias úteis para a sobrevivência do coletivo. Do outro lado do mundo os Taoístas faziam o mesmo ou bem parecido..

A verdadeira consciência universal é o entendimento de como a relação entre os homens e seus EUs superiores deixou de ser direta por causa do cristianismo/monoteísmo, onde a casta sacertotal movendo-se entre o adorador e o objeto de adoração virou uma espécie de gerente intermediário entre humanidade e divindade, e que cobra muito bem por seus serviços. E isso tudo fez o homem moderno mergulhar nas drogas e no alcoolismo ou em qualquer outro vício que a cultura atual nos impõe e que destrói qualquer tipo de conexão.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Pára no ponto?


Uniformidades


Todo ateu é intolerante. 
Todo negro é bandido. 
Todo pastor é ladrão. 
Todo padre é pedófilo. 
Todo religioso é alienado. 
Todo rockeiro é drogado. 
Todo colorido é gay. 
Todo gay é promíscuo. 
Todo idiota pensa assim.