terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Quando é a gente que “se ferra”


Não, meus amigos, o que nos transforma em seres humanos é aceitar com naturalidade toda vez que você percebe uma situação de “me ferrei”.

É fácil dizer “dane-se”. Dane-se o governo, dane-se a política, dane-se o problema dos outros, eu vou é cuidar de mim. Segue a esse raciocínio toda uma ladainha egocêntrica, conclamando a autoestima, a lógica do “se eu não fizer por mim ninguém vai fazer” e etc.

Embora o dane-se tenha uma função interessante em momentos em que cismamos com coisas que não são mesmo da nossa conta, não é isso que faz de você uma pessoa melhor, mais madura, um ser humano mais generoso.

O desafio é...

Como você reage quando é VOCÊ que se ferra?

eu, por exemplo, reajo muito mal em incontáveis momentos. É um HORROR. Sou de uma prepotência ridícula. Vou dar um exemplo:

Ontem eu estava sem um real na carteira. E sem gnv no carro. Parei num posto só porque tem um caixa eletrônico lá. Desci do carro enquanto o frentista botava gnv fui na loja de conveniência tirar dinheiro. Cheguei lá e...cadê caixa eletrônico? Tiraram. Removeram. Tinha, mas acabou, não tem mais.

Fiquei MUITO contrariada. Porque, né, como um caixa eletrônico que EU, essa pessoa essencial pro universo, quero usar, não está mais lá?

Paguei com cartão de débito e vim trabalhar. Voltei pra casa etc. Na manhã seguinte eu tinha que ir ao cartório. Fiz um caminho a pé para passar por outro posto de gasolina, esse sim com vários caixas eletrônicos.

Cheguei no terminal do Banco do Brasil e... estava sendo consertado. Demoraria ainda UMA hora. Bom, me ferrei de novo, pensei. Mas, né, sou um gênio e sei que tem um caixa eletrônico 24h que atende TODOS os bancos, ha! Fui até ele e... estava desligado.

Nesse instante eu percebi que eu realmente tinha me ferrado. Não é pra comemorar, porque é muito chato mesmo, eu tinha que pagar em dinheiro no cartório. Mas, né, a-con-te-ce, é normal. Com todo mundo, por que não comigo? Sou tão especial assim?

Em vez de usar minha incrível competência para ligar um app do banco e achar outro caixa eletrônico mais próximo o que eu fiz? Fiquei ali, reclamando, indignada, falando “cás-párêde”, que eu precisava, que era um absurdo e blá blá blá blá blá blá.

Ou seja, quando EU me ferro eu acho inaceitável. Inconcebível. Onde já se viu, eu, a rainha do tricô tunisiano, a princesa da Lapônia, não tendo meu desejo atendido!

Meu amigo, que estava comigo, ria muito de mim. Eu me ferrei, é engraçado mesmo. E aí ele me contou de outras vezes em que agi assim. E contou que se lembrava do dia que uma mulher bateu no meu carro e eu desci esbravejando... e outra ocasião em que me deram o troco errado, não percebi e reagi muito mal... Partiu meu coração. Quer dizer que meu melhor amigo só se lembra de momentos ruins meus? Quer dizer que eu promovo momentos horríveis que são marcantes pras pessoas? Quer dizer que eu sou assim?

Fiquei pensando muito nisso. Conversei em casa. E ainda estou pensando nisso.

NO jeito que a gente reage quando é nossa vez de enfrentar uma ou muitas contrariedades. É, fechou na sua vez. Acabou na sua vez. Você se deu mal.

Não estamos preparados pra isso. Não aprendemos a errar, perder, ir mal, fracassar. Lidamos mal com toda adversidade, crítica, falha.

Nossa e alheia.

Tudo pode dar errado, mas não com a gente.

Aqui estou, pensando em aprender a me ferrar. Ou melhor, a aceitar que “shit happens” para todos. Com mais tranquilidade, sem rancor, sem raiva. Apenas aceitar e... resolver de outro modo.

Por isso, repito, não é o “dane-se” que vai salvar você. É o “a-ha-ha-ha-ha, me ferrei” que vai trazer a liberdade que acompanha o inexorável fato de que somos finitos, mortais e 100% iguais aos olhos do universo.

Beijos.

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