terça-feira, 7 de junho de 2011

Humor sem graça

Minha ideia não é espetar, então pergunto: o que será que o pessoal do CQC acha do Pânico? Eles gostam? Assistem? Acham que rola uma rivalidade? O que é humor inteligente pra esses caras?

Sinceramente, eu a acho que esses pseudohumoristas não estão lá para divertir ninguém, mas para se divertirem. Custe o que custar.

Parafraseando Ferreira Gullar, o humorismo não foi feito para humilhar ninguém. Eu, particularmente, não vejo graça em pessoas serem expostas ao ridículo. Fico indignada, apenas.

E esses programas repetem isso à exaustão. É sempre a mesma piada, os mesmos personagens, semana após semana. Um porre, portanto. Há quem viva bêbado, e os que gostem de se sentir assim, bem sei. Ainda mais se as vítimas dessa embriaguez forem pessoas poderosas. Já que políticos nos ferram tanto, eles que se ferrem também. Poderia até ser, mas não é o caso...

Seria, se esses paladinos do humor brasileiro realmente enfrentassem os corruptos, os demagogos e os canalhas. Mas não. Eles não contestam sistema algum. Não reclamam do que incomoda. Tirando raríssimas exceções, quem vai para o cadafalso são insignificantes figuras do terceiro escalão das mazelas deste país.


Funcionários públicos de carreira, prefeitos de cidadezinhas, assessores e aspones, sub-celebridades que merecem mais piedade que desprezo. É essa a fauna que alimenta o apetite de programas que se esforçam em parecer inovadores e corajosos.

Lamento, mas acho que o humorismo que eles fazem é covarde. E o jornalismo é de tocaia. Induções a erro, armadilhas. Caçadores de cabeça, quase mercenários.




Sintomática é a profusão de merchandisings. Todos muito bem feitos, criativos, dinâmicos. Diria até que é o que há de mais ousado. Talvez saibam fazer dinheiro mais do que provocar risadas.

Ok, normal. Hoje em dia, todo mundo quer ganhar uns trocados. Milhões de trocados, de preferência.

Ainda mais tirando uma da cara dos outros.

A edição, não há dúvidas, é o que dá sustentação a esses programas. Moderna, ágil, esperta. Aqueles narizes de Pinóquio, as bochechas vermelhas, as marteladas na cabeça, quase sempre são esses efeitos gráficos que nos levam a esboçar algum sorriso.

Mas esses recursos de pastelão são também essencialmente desonestos. O entrevistado não tem como se defender. Pode estar falando algo digno, mas que sucumbirá a uma torta na cara. E as piadas, convenhamos, são tristes.


Alguns exemplos:


“Será que o Lula, como pai solteiro do PAC, vai molhar a chupetinha numa pinga pra relaxar a criança?”


“É aqui a reunião da máfia? “, perguntam a um parlamentar, na porta da festa de aniversário de José Dirceu, que “deu o primeiro pedaço de seu bolo de aniversário a Belzebu.”


“Cid Moreira é um dinossauro vivo da TV brasileira.”


“Ronaldo Ésper incendeia a rosca”.


Ao vivo, o jogador santista Paulo Henrique Ganso não confirma sua ida ao Corinthians antes da transferência para a Europa. Um dos moços da bancada diz, soberano: “É como se falassem para o príncipe William: Tudo bem, você pode casar com a gostosa da Kate, mas primeiro tem que dormir seis meses com a Regina Casé”. Não é hilariante chamar uma mulher de feia?


Numa festa, o “repórter” fica esculachando anônimos alcoolizados. Quando chega a Andrea Beltrão, lambe a atriz como se fosse um fã. Diante do ator Paulo Cesar Pereio, fica miudinho. Quanta rebeldia, né?


Não é justo esquecer as pérolas que Danilo Gentili e Rafinha Bastos desovaram em seus respectivos twitteres. São perversidades antológicas:


"Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que chegaram perto de um metrô, foram parar em Auschwitz".


“Aê, órfãos! Dia triste hoje, heim?”, em pleno Dia das Mães.



Sem comentários. Eu não consigo rir de nenhuma dessas maldades. Para mim, isso não é engraçado. É mau gosto, grosseria, apelação ou deselegância. Apenas.


Não é verdade que se pode fazer humor a qualquer preço, custe o que custar.


O próprio lema já é de dar calafrios.

E não tem graça nenhuma.




Fonte: @oprovocador

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