quinta-feira, 28 de julho de 2011

A justiça humana não tarda. E falha.



A agressividade é humana. Tem função evolutiva. O animal precisa ser agressivo para se defender dos predadores. E o animal homem combina sua agressividade com a criatividade e inteligência para se sobressair na seleção natural. Ok, ok, sabemos que o mundo atual é uma selva de pedra mas não quero aqui ficar falando de ataques de vida ou morte, até pq nossa realidade é bem distante disso. Principalmente na internet.

Quero falar de um comportamento que anda intalado na minha garganta desde ontem e que percebo mais intensamente agora. Quero falar sobre os julgamentos apressados. Quero dizer que a justiça humana não tarda. E falha. E como falha.

Sabe pq? Porque julgamos apressadamente tudo. Simplesmente porque não somos isentos. Estamos sempre buscando uma reafirmação do que já achamos anteriormente.

Sempre que você acha um 'pensamento' bonito, é porque você concorda com ele, porque existe ressonância entre o que você já pensa e o que está lendo. Ou seja, estamos sempre RETROALIMENTANDO nossas opiniões, crenças e convicções, sejam elas lógicas ou não, lúcidas ou não, embasadas ou não. Se você acredita que gato preto dá azar, vai fazer muito pouco para questionar ou mudar essa crença e vai fazer sempre muita coisa para reafirmar, explicar, justificar ou disseminar essa crença. Assim somos.

Quer um exemplo? Você conhece uma mulher bonita, atraente e percebe que seu marido olhou diferente pra ela. Pronto. A culpa é DELA que passa imediatamente a ser rotulada de vulgar. De falsa. E você não vai com a cara...DELA. Insano isso, NE...  E é capaz até de torcer para que ela tropece na primeira esquina e quebre os dentes para deformar aquela carinha de boneca tão... vulgar. Aff...  Du-vi-do que esse tipo de pensamento já não tenha passado na sua cabeça pelo menos uma vez na vida. Confessa, vai...

Quer outro exemplo? Passei um ano juntando garrafas lindas de azeite espanhol para fazer um enfeite artesanal lindíssimo que vi numa revista. Quando finalmente consegui juntar a quantidade necessária e comprar as tintas, o sisal e os pincéis descobri que meu marido havia jogado TODAS no lixo. Isso mesmo! Ele jogou todo o meu sonho de um ano no lixo argumentando que “eram só garrafas vaizias”. Que era "lixo".  Julgamento apressado? Pois é... apressado e igualmente insano porque não analisou previamente o quanto fiquei magoada com isso.

Ele não pensou que para mim estava sendo a maior curtição do mundo criar com as próprias mãos algo que pudesse enfeitar a minha própria casa. Bobagem? Pode ser. Mas é bobagem humana. E merece valor e respeito.

Julguei e condenei ele? Não. Pq condenar é igualmente falho e humano.

Além do julgamento insensato, apressado e falho, há também a condenação imediata.

A sequência é mais ou menos assim: eu acho -> eu julgo baseado no que eu acho -> eu condeno baseado no que eu julgo e eu já parto pra ofensa pública, num átimo. E por que isso acontece? Porque não nos importamos com ideias ou situações, mas pessoas.

Você não gosta de mim, por exemplo. Portanto, já estou julgada e condenada. Tudo o que você procurar, pesquisar, ler, interpretar, será no sentido de CORROBORAR, justificar, encontrar motivos para provar que eu realmente não mereço seu respeito. Nas fotos vai ver meus defeitos, nos textos vai procurar incoerências, nos vídeos vai implicar com tudo, nas discussões vai ficar contra mim. Os emails... nem vai ler. Por que? Porque você, eu, todo mundo quer ESTAR CERTO. Estar CERTO é muito mais gostoso do que ser JUSTO. O cérebro gosta de acertar e não de ser imparcial.

E assim vamos, criando um mundo fantasioso e contaminado, 100% ilusório e injusto, que nos afasta tanto da realidade como da sensatez.

Portanto, se a gente não quiser piorar o ser humano, é bom baixar um pouco a bola. TODOS NÓS. Respirar fundo, diferenciar o que é SEU julgamento do que é a verdade, o que é SUA cisma e o que é a atitude ou intenção do outro.

E, sobretudo, tirar esse dedo do gatilho. A gente reclama da bala perdida do policial, que mata inocentes, e nem percebe as balas morais que atiramos sobre pessoas que não fizeram rigorosamente nada. Nada.

Pessoas que acusamos porque não gostamos, não nos identificamos, não temos simpatia, achamos que a pessoa ameaça o nosso porto seguro. Vai saber por quê...

Vamos parar de acreditar só no que é ruim, de consumir só o que é maléfico, de dar ouvidos para o pior lado, de julgar sem saber, de alimentar nosso monstro interior.

Vamos largar essa pedra, vai.
Não quer largar?
Tá, mas não atire a pedra em ninguém.
Coloque-a num lindo bonsai.








texto baseado num post da @rosana

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